Artigo: Adios Amigos! Rodrigo ‘Tonel’ Silva, eternamente presente…

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É quando seus AMIGOS te surpreendem, deixando a vida de repente e não se quer acreditar…

Por: Gustavo Girotto*

Sempre me sobram palavras – vivo delas – hoje me faltam todas. Mesmo com dor insuportável, vou tentar (peço desculpas).

Rodrigo Ordine Ferreira da Silva, o Tonel (apelido dado por mim), fora sempre um dos meus “consiglieres”, literalmente em italiano. Falávamos quase todos os dias, meu amigo, irmão. Ele participou de grandes decisões da minha vida,  – ao lado do Neto Cavicchiolli e do Gabriel Malaman Scrivanti ; poucos sabem! Devo muito à eles.

Uma vez um amigo de escola ligou em sua casa, a Dona Marinês, educadora e mãe amável, atendeu e perguntou: – com quem você quer falar? O colega engasgou e disse, com o ‘Tonel’ – o apelido era tão presente, que substituiu o nome.

Na escola sempre foi inteligente, mas não se interessava por matérias comuns: era profundo conhecedor de aviação, astronomia e sabedoria de vida. Uma vez construímos uma maquete da sua casa, para um trabalho escolar, e a perfeição em detalhes tornou-se assunto e, posterior, obra de exposição. Era ítalo em tudo, menos no time: torcedor fanático do São Paulo Futebol Clube. Goleiro nas peladas, era fã do Zetti.

Automobilismo também era uma de suas paixões. Em uma tarde, há alguns anos, liguei para o Rodrigo por vídeo – e disse: – “veja quem vai falar com você…”. Fiz uma surpresa: ao meu lado estava o Reginaldo Leme, meu colega e grande ícone das coberturas de F1 no Brasil. Falaram por alguns minutos e, a alegria no rosto do Tonel, é a imagem que vou guardar. Reginaldo também enviou de presente à ele: – um livro autografado.

O Tonel me ensinou a gostar de Ramones, além de ter domínio muito novo em inglês – eu colava dele nas provas. Era um dos filhos daquela Batata Doce, na infância levado pelo seu tio Meia, tocava ao meu lado tamborim. Dominava acordes de guitarra e, nesses tempos de luta, se dedicou a luthieria – construir e arrumar instrumentos. O Goiaba, Uederson Lopes Gibertoni, que também integrava o núcleo de melhores amigos, o acompanhou de perto nesse período de angústia. Ele [Goiaba], outro grande músico, até comentou comigo ter levado um contrabaixo para o Rodrigo arrumar; se distrair nesses tempos em que estava pelejando por conta de um tratamento muito agressivo.

Uma vez em uma excursão em São Paulo, nos dois já tínhamos familiaridade com a cidade grande (minha tia e o seu tio Meia já residiam por aqui, passávamos férias na metrópole), ele me confessou: – “quero morar nesta cidade quando crescer”, eu respondi: – eu também. Eu fui, ele ficou – mas nunca nos esquecemos.

Esse dia fomos ao Mac Donald”s e rimos do Goiaba ter pago o lanche, mas chegou na mesa sem ele.  Perguntamos: cadê o seu? O Goiaba: eles não entregam na mesa? Eu e o Tonel gargalhamos por incontáveis minutos…o Goiaba rebateu: – “cobram caro por um lanche pequeno, não entregam na mesa e, no final, ainda você precisa limpar tudo – como gostam disso? Eu prefiro o X-tudo do BigBox do Gaúcho”. O Goiaba tinha razão na análise, com o passar dos anos, chegamos em um consenso. Brigamos muito em todas fases, superamos todos os desentendimentos.

Ele me deu também o primeiro pin do PT (Partido dos Trabalhadores), que tenho até hoje, e alertou: “usar isso aqui é ser mal visto, a esquerda em Taquaritinga tem pouco espaço”. O Rodrigo sempre foi de pensamento progressista, à frente, em uma cidade de conservadores. Era filiado no diretorio local, além de ser advogado de formação, mas gostava e exerceu a medicina oriental. Cuidou da minha coluna.

Há quem diga que a morte e a vida não são contrárias, são irmãs. Rodrigo fez sua última viagem, deixa a querida Roberta Tebaldi da Silva, esposa dedicada que esteve ao seu lado em todos esses momentos, os pais Airton e Marinês, o irmão Junior-, mas jamais será esquecido até o último dia da minha vida; e por todos os seus amigos.

Gostaria que uma sala do Domingues da Silva, colégio onde militamos juntos no grêmio estudantil, vencemos, e fomos felizes, carregasse em homenagem seu nome. Vou lutar para isso, embora, atualmente, tenho pouca (quase nenhuma) influência local. Braulio Libanori lembrou que lá também lançamos uma moda: de ir de samba-canção na escola.

Rodrigo resistiu ao diagnóstico, guerreou bravamente no tratamento e não desistiu da vida até o fim – como cristão sempre me confessou estar preparado para a missão – seja ela qual fosse. Ele disse aos amigos, em seus últimos dias: – “fiquem tranquilos; estou em paz!”

Aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós, como escreveu Antoine de Saint-Exupery. Rodrigo se despede de nós em fevereiro, o mês mais feliz do ano, em um dia de clássico entre Palmeiras x São Paulo, e não há respostas: apenas o fato dele ter espalhado alegrias sempre por onde passou.

Me despeço de ti com beijos e lágrimas. Um dia a gente se reencontra…te amo e obrigada por fazer parte da minha vida…Rodrigo Ordine Ferreira da Silva, o carcamano irmão Tonel, eternamente presente!!! Infelizmente, como cantou União da Ilha: hoje é dia do riso chorar ….😭

*Gustavo Girotto é jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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